Chegamos na 10ª newsletter, devo dizer que foi uma jornada chegar aqui e tenho sentimentos conflitantes em relação a este "hobby" que escolhi fazer no ano passado.
Se tratando de uma News especial eu quero falar sobre esta jornada da newsletter e sobre perfeição.
No começo é empolgação e inocência
Eu gosto de escrever, lembro de quando eu estava na escola e tinha um trabalho para fazer que era escrever uma história, eu a escrevi com o maior esmero possível (lembro que era uma história de sequestro de avião), eu até coloquei detalhes de descrição de cenário.
Ao longo dos anos eu escrevi várias coisas, algumas eu nunca terminei, outras eu até terminei e compartilhei com um pequeno número de pessoas para lerem. Porém, nunca tive confiança para publicar nada, por achar que não eram boas o suficiente.
Ano passado a Elsa Villon começou a sua newsletter “Elsa em Dados” onde ela faz diversas indicações, além de escrever textos bem legais e engraçados (com o humor bem particular dela). Isso foi uma inspiração para eu querer voltar a escrever.
Escrever é algo bem terapêutico, expor ideias, opiniões e compartilhar com outros é bem legal, sem contar que é um momento que você está dedicando para assuntos que te interessam, espalhar um pouco daquilo que gosta.
Quando vem o sofrimento
Com a motivação de querer a voltar a escrever, decidi que também faria uma newsletter, escolhi o Substack para tal. A minha ideia era escrever “tudo sobre nada” (que seria o nome da newsletter), acho a ideia interessante da pessoa não ter noção de qual será o próximo tema e se surpreender, como receber um presente e não saber o que é.
Então na empolgação e no embalo do momento comecei a trabalhar na newsletter. Em um primeiro momento, era algo que ocupava minha mente constantemente, pensando em assuntos, possibilidades, pesquisando e se esforçando para fazer o melhor. Com o objetivo de me desafiar sobre assuntos que eu gosto, refletir e provocar reflexão.
Claro que em nossa mente o que pensamos é legal e perfeito, na prática é bem diferente.
Escrever um texto não é nada fácil, mesmo que seja um assunto que você já gosta, é necessário pesquisar para ter certeza que não estará falando groselhas, aprender mais e ter insights do que pode ser incluído ou não. Por mais que muitos dos temas fiquem maturando na minha mente por diversos dias, é preciso todo um processo para que isso seja colocando no editor de texto.
O trabalho de escrever não é o problema, na verdade é a parte divertida. O problema mesmo são os erros que você comete, e por mais que se tome um enorme cuidado para que isso não aconteça... acontecerá!
Doe ainda mais quando você acaba de postar um texto e quando você olha despretensiosamente encontra um erro, isso acaba comigo. Eu corrijo o texto e atualizo a versão no Substack (então pode haver diferenças no texto que você recebe no e-mail e no que está aqui no Substack).
Além dos erros, outro sentimento que se tem é que aquilo que você escreveu ou fez não está perfeito e poderia ser melhor (o que já senti escrevendo as minhas histórias). Por mais que haja elogios em relação ao que você escreve, no fundo sabe que não é bom o suficiente e que ainda tem muito à melhorar.
Perfeição
Quando eu estava pensando nos temas de cada mês, estava planejando que a 10ª News deveria ser um tema especial ou fugir do padrão, cheguei à conclusão que poderia falar sobre a própria newsletter. Logo depois eu alterei um pouco para falar sobre a frustração que é escrever.
É engraçado pensar que a newsletter seja um hobby que eu levo à sério demais, que mesmo assim eu quero que seja algo bom e que outras pessoas também gostem. E que por mais que eu tenha um pouco de orgulho do que eu escrevi, o sentimento de que não é o suficiente é maior.
Foi aí que pensei: O que é perfeição?
Não vale a pena se aprofunda tanto neste tema, já que é algo muito complexo para eu abordar em sua totalidade aqui, ainda mais que perfeição tem vários significados.
Perfeição vem desde a Grécia antiga e podemos imaginar que algo é “perfeito” quando:
- Está completo
- Não falta nada, não há nada a melhorar
- O que atingiu o seu objetivo
Ao longo dos anos muito se tem pensado sobre este conceito e se ele é atingível, ou mesmo em entrar em paradoxo. Vamos manter o foco na minha newsletter neste momento.
Faria sentido em tentar alcançar a perfeição em meus textos?
Não, pois isso significaria que não havia nada a melhorar ou aprender! Sem contar o fato que nós somos seres humanos, e por natureza somos "imperfeitos".
E pensando nos significados que listei, a minha ideia ao escrever sobre algo é de construir conhecimentos, então o meu conhecimento nunca estará completo de verdade! Sempre haverá algo a aprender e repensar, não é à toa que existe a frase: “tudo que eu sei é que nada sei”.
A imperfeição é a perfeição
Quando eu paro para pensar sobre perfeição é em como várias obras que nós gostamos não são perfeitas, por mais que falamos que elas sejam.
Um dos jogos que eu mais gosto é o Super Mario 64, jogo de 1996 para o Nintendo 64 e que é de extrema importância para os jogos 3D. Por mais que este jogo seja celebrado, ele está longe de ser perfeito.
Por exemplo, se você entrar em nesta página que lista os vários glitches, bugs ou oversight do jogo, verá que existem vários! Ou mesmo que tem várias escolhas de game design no jogo que são bem questionáveis ou que são “ruins”, ainda assim, estas imperfeições fazem parte do charme do jogo.
Ou como o Shigeru Miyamoto uma vez disse quando perguntado sobre o glitch do -1 no SMB “Isso é um bug, sim, mas não é como se desse crash no jogo, então é um tipo de feature do jogo”.
Outro exemplo é da música Whole Lotta Love do Led Zeppelin, no final da música temos um eco da voz do Robert Plant que antecede o que ele vai cantar, como comenta Eddie Kramer:
“Jimmy e eu ouvimos esta voz baixa cantando a letra antes do Robert na faixa principal. Aparentemente, Robert teve dois vocais diferentes, gravados em 2 faixas diferentes. Mesmo quando eu abaixava o volume da faixa, a poderosa voz dele estava invadindo a gravação principal. [...] Muitos hoje pensam que essa voz é um pré-eco que adicionamos de proposito como efeito, não era – foi um acidente.”
Você diria que o “erro” em Whole Lotta Love faz a música ser ruim ou faz parte do charme?
De Volta para o Futuro (1985) é um clássico filme de Robert Zemeckis, fez tanto sucesso que gerou 2 sequências formando uma trilogia clássica, a base do filme é a viagem no tempo onde Martin McFly fez viagens para o passado e futuro. É muito comum muitos apontarem os “furos de roteiro” que a trilogia tem. E sinceramente isso importa?
Os furos de roteiros diminuem a qualidade do filme e do entretenimento que eles nos proporciona? Ou isso é querer procurar pelo em ovo? O filme não precisa se “perfeito” para ser bom, pelo contrário, uma obra-prima não é perfeita e nem precisa!
Neste excelente texto no site StarWarsComentado, como o próprio autor bem colocar sobre furos de roteiros:
“A resposta lógica é que os Furos de Roteiro só importam quando a pessoa que está assistindo tem outro problema com o filme, se você vê um furo de roteiro num filme que você gosta, você tenta explicá-lo ou ignorá-lo, mas de qualquer forma, ele não estraga o filme que você está vendo de maneira nenhuma, não importa o quão grande seja.”
Ou mesmo, será que o “furo” não é algo colocado de propósito no filme para que gera engajamento de quem esteja assistindo? Não é uma reposta fácil de verdade, isso é de obra a obra.
No final, imperfeições em obras não importam de verdade quanto as pessoas dão crédito.
Evolução não é o mesmo que melhor
A teoria da evolução de Charles Darwin é um dos conceitos mais interessantes e importantes que a humanidade produziu nos últimos séculos, porém é engraçado pensar que muitos têm este conceito errado em sua mente.
O primeiro ponto de destaque é logo no início, teoria cientifica não é a mesma coisa que a “teoria” que nós usamos no dia-a-dia. Teoria é associado a uma suposição ou possibilidade, enquanto uma teoria cientifica é algo que foi testado e comprovado.
Segundo, evolução para muitos significa algo melhor, entretanto na teoria cientifica evolução não significa melhor, e sim que algo está melhor adaptado. Se um animal foi extinto, não é porque ele estava “obsoleto” ou "pior" e sim que o ambiente mudou, assim ele não foi capaz de se adaptar ao novo cenário.
Pensando nisso, será que entendemos bem o conceito de perfeição tão bem quanto entendemos o conceito da teoria da evolução?
Ou melhor, será que EU entendi o conceito de perfeição?
Com isso tudo em mente, a minha relação com a newsletter mudou um pouco sim. Eu entendo que os erros fazem parte, que não preciso tentar alcançar este ideal de perfeição! Que no final não importa tanto quanto eu pensava.
Este pensamento que "Ainda não está bom o suficiente" é errado, nunca será bom o suficiente e não precisa ser. Devemos aceitar que o mais importante é fazer, independente do quanto pensamos que não esteja bom. Perfeição no final de tudo será só uma barreira que pode te impedir de prosseguir com algo.
Além de que é necessário ter uma evolução constante, esta evolução talvez não significa para algo melhor, mas de saber quebrar certas ideias/conceitos e aceitar novas. Tanto que os meus textos mudaram muitos desde o início. Quando eu escrevo agora, penso em outras questões/aspectos que não fazia ideia.
Antes de finalizar o texto quero fazer uns agradecimentos. Elsa Villon pela inspiração, pelos retornos (e as broncas), eles me fizeram refletir para evoluir. Tito Camello e Danilo por sempre lerem e comentarem, o que me incentiva a continuar. Marina e Thaissa que leram, revisavam e deram um retorno sobre a newsletter 8. A todas as pessoas que fizeram indicações de quadrinhos na newsletter 5 (que é a mais lida da minha newsletter).
E a você que está lendo agora este texto meu, muito obrigado.
Texto bem desenvolvido, acho importante destacar a frase: “Perfeição no final de tudo será só uma barreira que pode te impedir de prosseguir com algo.”
Do pouco que já li, o que posso dizer é que amo o os seus textos e a maneira como escreve. Sempre com ideias estruturadas utilizando referências com interligações inimagináveis mas que sempre fazem sentido. Parabéns Ale!!